Ao percorrer um caminho qualquer, existem duas formas de se desviar dele: perder o foco do ponto de chegada ou simplesmente mudar a direção do deslocamento. Dito de outro modo, tornar-se cego para o fim ou tornar-se cego para o meio. Pode parecer tautológico (na verdade é), mas eis que os obstáculos à realização dos objetivos do yoga coincidem com essa tautologia: o indivíduo sequer imagina que há um ponto de chegada ou, quando imagina, acredita realmente que qualquer coisa poderá levá-lo lá — o que são dois motivos para continuar fazendo exatamente o que estava sendo feito antes de conhecer o yoga.
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O ditado diz: «todos os caminhos levam a Roma». Examinar os limites desta frase à luz da diversidade atual do yoga me mostrou que não, nem todos os caminhos levam a Roma. Outros levam a Londres ou a Montreal ou a São Paulo. Se você quer ir a Roma, por que tomaria um táxi para, digamos, descer em Moema? Ou, dito de forma mais específica: se você busca a meditação, por que limita sua prática à ginástica?
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A diferença entre você e um ser iluminado é que o ser iluminado já não tem mais dúvidas do que ele é. Você ainda perde tempo se perguntando se você não é alguma outra coisa e acredita facilmente que é aquilo que você vê no espelho, um corpo diariamente lapidado pelos asanas, uma carreira bem sucedida ou uma condição familiar. O mais curioso é que querer ser todas estas coisas não altera em nada sua condição de ser iluminado.
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